COVID-19, crise económica e a igualdade nas empresas

Tem vindo a ser demonstrado que a pandemia COVID-19, para além da trágica perda de vidas, agravou, de múltiplas formas, as desigualdades sociais e económicas, incluindo as existentes nos contextos de trabalho, e impactou de modo desproporcionado as pessoas mais vulneráveis[1].

A Organização Internacional do Trabalho (OIT)antecipa que a tarefa coletiva de reduzir estas desigualdades será extremamente desafiante[2], mas, num «apelo mundial à ação para uma recuperação da crise da COVID-19 centrada nas pessoas»1, aponta estratégias para minimizar assimetrias no futuro.

Todas as crises geram efeitos diferenciados em termos de género. A crise financeira do final da primeira década de 2000 teve um impacto económico mais profundo nos homens, já que afetou sobretudo o setor financeiro e da construção, onde estão sobrerrepresentados2. Já a crise COVID-19 tem afetado mais as mulheres, em resultado da preexistente segregação sexual no trabalho: claramente em maior presença nos setores mais atingidos, «muitas continuam a trabalhar na linha da frente, sustentando os sistemas de prestação de cuidados, as economias e as sociedades» e, simultaneamente, continuam a fazer a maioria do trabalho não remunerado de prestação de cuidados familiares e as tarefas domésticas1. Por outro lado, também estão desproporcionalmente presentes em áreas de trabalho que foram encerradas nos períodos de confinamento, o que as expôs a maior risco de perda de trabalho e rendimento1, aumentando-se o fosso da desigualdade. Também o trabalho a partir de casa, não obstante os inequívocos benefícios durante a pandemia, exacerbou o efeito das desigualdades no trabalho doméstico não remunerado:  as mães trabalhadoras foram o grupo que reportou ter dedicado mais tempo a tarefas domésticas e aos cuidados a crianças do que previamente à pandemia, aumentando o conflito familiar e desafiando a sua saúde mental2.

Torna-se, pois, evidente que as estratégias de combate à crise considerem estas questões de género, sendo necessária, segundo a OIT, uma «ação urgente e coordenada para conter a crescente desigualdade (…) e fazer retomar as economias para uma recuperação da crise que seja plenamente inclusiva, sustentável e resiliente»1.

Reconhecendo o papel fundamental do setor privado nesta recuperação e no desenvolvimento económico, as empresas devem estar conscientes e preparadas para contribuir para a igualdade de género e para o combate à discriminação nos contextos de trabalho, adotando uma agenda profundamente transformadora que será a chave para a redução de disparidades e a garantia da justiça social para mulheres e homens2

Assim, através da conjugação de políticas públicas com as práticas organizacionais, o caminho proposto pela OIT para ultrapassar a crise resultante da COVID-19 assenta numa abordagem centrada nas pessoas e inclui1:

  • adaptação do teletrabalho e novas modalidades de trabalho para aumentar as oportunidades de trabalho digno;
  • garantia do princípio de igualdade de remuneração por trabalho igual, apoiado pela transparência salarial;
  • promoção do recurso às licenças remuneradas para assistência à família, tendo em vista uma divisão mais equilibrada das responsabilidades familiares e domésticas;
  • incentivo à aprendizagem ao longo da vida, aumentando o repertório de competências de trabalhadoras e trabalhadores;
  • eliminação de obstáculos à entrada e progressão nas carreiras;
  • prevenção da violência e assédio com base no género e ativação de mecanismos de proteção contra os mesmos;
  • promoção da igualdade, da diversidade e da inclusão, visando a eliminação de qualquer forma de discriminação, violência e assédio com base em qualquer fundamento como sexo/género, identidade de género, orientação sexual, idade, etnia, religião, origem social, nacionalidade, entre outros.

Partilhando desta visão de um crescimento económico sustentável centrado nas pessoas e capaz de reduzir desigualdades, o projeto bridGEs apoia as empresas do Alto Minho a implementar medidas promotoras de igualdade, tornando-as organizações mais responsáveis, inclusivas e comprometidas com o futuro e com a justiça social e, por conseguinte, mais produtivas e competitivas. BridGEs – Empresas do Alto Minho pela Igualdade de Género, promovido pela Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade do Porto e operado pela Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género, é um projeto do Programa Conciliação e Igualdade de Género do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu – EEA Grants.

1. ILO (2021). Trabalho em tempos de COVID, Relatório do diretor-geral, Conferência Internacional do Trabalho, 109.a sessão, Genebra. Consultado em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—europe/—ro-geneva/—ilo-lisbon/documents/publication/wcms_795276.pdf

2. ILO (2021). Inequalities and the world of work International Labour Conference 109th Session. Consultado em: https://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—ed_norm/—relconf/documents/meetingdocument/wcms_792123.pdf