Estudos de revisão têm concluído que nas empresas onde não existe um esforço em promover a igualdade de género, a saúde mental é pior; da mesma forma que mulheres e homens exibem níveis semelhantes de dimensões de saúde mental (e.g. depressão, ansiedade, stress, bounout, etc.) em organizações onde a igualdade de género faz parte das políticas e práticas desses contextos (Elwér et al., 2013).
O conflito trabalho-família parece ser um dos mais fortes preditores de stress e ansiedade percebidos na vida de quem trabalha e, sobretudo, das trabalhadoras. A interferência entre a vida profissional e a vida pessoal tem sido apontada como sendo um dos dez principais fatores de stress no local de trabalho (Gao, Shi, & Wang, 2013). Por exemplo, na Suécia, um país pioneiro na reflexão social e científica destas questões, desde há décadas, alguns estudos têm analisado as respostas endócrinas ao stress, comparando homens e mulheres no trabalho e em casa. Os resultados revelaram que durante a jornada de trabalho não havia diferenças de género significativas nos níveis hormonais, já no ambiente doméstico as diferenças foram muito acentuadas. Especificamente nos homens, os níveis de noradrenalina diminuíam ao chegar a casa, enquanto nas mulheres continuavam a aumentar depois da chegada aos seus domicílios. Este estudo revelou que a restauração do stress laboral e uso do tempo em casa para descanso, após a jornada de trabalho, parece ser uma realidade para os homens, mas não para as mulheres (Frankenhauser, 1991). Entre os fenómenos relacionados ao stress ocupacional, o burnout, causado por situações de falta de autonomia, relações conflituosas, excesso de trabalho e longas jornadas (Nazari et al., 2016), tem tido muito destaque. Trata-se de um estado de desgaste e esgotamentos físico e mental, cuja origem está relacionada com as características do trabalho e, ao que vários estudos indicam, é uma síndrome genderizada e influenciada por questões de desigualdade no trabalho e fora dele (De Matos & Junior, 2020). Adicionalmente, um outro estudo, de Gaeul Kim e colegas (2020), mostra que mulheres que sofrem de discriminação de género no local de trabalho têm uma maior probabilidade de apresentar sintomatologia depressiva, independentemente do tipo de discriminação percebida (ao nível da contratação, promoção, atribuições, salários e demissões). A saúde (física e mental), como campo de prática e investigação, tem sido muito abordada e desenvolvida nos últimos anos. No entanto, o estudo do efeito das desigualdades de género na saúde das/os trabalhadoras/es ainda é um campo muito em aberto para futuras investigações neste âmbito.